22 de ago. de 2015

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18 de ago. de 2015

Renúncia e legitimidade



Supostamente preocupado com a legitimidade do governo Dilma, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sugeriu que a presidente renuncie ou admita publicamente seus erros.  

Conhecendo Dilma, FHC sabe que não existe hipótese de renúncia. Admitir erros também não é o esporte preferido de Dilma. Então, o que quer o ex-presidente?

A primeira coisa a se levar em conta é o momento da declaração - um dia após as manifestações de rua contra o governo. Desse modo, o propósito imediato do tucano é não deixar que a temperatura anti-Dilma esfrie, como naturalmente aconteceria a partir de segunda-feira, está claro.
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O PSDB não sabe que caminho seguir. Suas principais lideranças - Aécio, Alckmin e Serra - não se entendem. Buscam caminhos opostos para o mesmo objetivo: apear o PT do governo. 

A única coisa que parece unir o tucanato é o medo de perder a janela de oportunidade, como julgam ter perdido em 2005 - principalmente quando, em meio ao escândalo do mensalão, o marqueteiro Duda Mendonça admitiu ter recebido R$10 milhões do PT via caixa dois. À época o PSDB achou por bem não partir para o confronto na crença de que enfrentaria, em 2006, um Lula irrefreavelmente enfraquecido.

Dividida, a oposição pouco pode fazer contra Dilma. O governo é fraco, mas a presidente ainda detém a caneta. FHC apela, assim, para a unidade. O recente movimento pró-governo no Senado e entre as lideranças empresariais dispararam um sinal de alerta no ninho tucano.
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A base do governo tampouco segue unida. Nesta quinta-feira, grupos de esquerda sairão às ruas contra a política econômica adotada pelo PT. Certamente baterão no ministro da Fazenda Joaquim Levy e na Agenda Brasil, apresentada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros. 

Ao contrário de FHC, os manifestantes acreditam que a legitimidade de Dilma só será reconquistada com uma guinada à esquerda, ou seja, sem os atuais conchavos com a casta do Congresso ou com a onipotente elite econômica. Sinuca.

12 de ago. de 2015

Uma mão lava a outra



Política é igual nuvem. Você pisca e ela muda. 71% de reprovação. Panelaços. Passeata à vista. Ok. É o fim do caminho. A vaca foi para o brejo. Será?

Parece que o jogo está mudando para a presidente Dilma. Sua súbita aliança com Renan Calheiros, presidente do Senado, já começa a dar resultado. "Presidente ganha mais 15 dias no TCU para explicar sobre as contas de 2014".

A aposta em Renan, contudo, é um risco para a presidente. O senador alagoano é investigado pela procuradoria-geral da República, assim como Eduardo Cunha, presidente da Câmara. Na iminência de ser indiciado, Cunha partiu para o confronto. Renan, por ora, estende a mão.

A Dilma interessa isolar Eduardo Cunha e a oposição, sedentos pelo impeachment. Renan, de certo, pode ajudá-la no TCU, onde tem apadrinhados. Pode muito bem ser um contraponto no Congresso contra a pesada pauta-bomba, sobretudo fiscal.

E a Renan, o que interessa? Seguramente poder, cargos e verbas. Como quem não quer nada, o senador acaba de apresentar a chamada Agenda Brasil. Entre outras coisas, expande a terceirização no mercado de trabalho, propõe a revisão de licenças ambientais e avalia a proibição de liminares contra os planos de saúde que se recusam a atender seus clientes - um agrado para os seus financiadores de campanha.

Pode-se dizer também que Renan queira garantir uma vida tranquila para o seu filho, governador de Alagoas - quem sabe, merecedor de muitos convênios.

Talvez pare por aí. Afinal, até aqui, não me parece que o governo decida o rumo das investigações da Lava Jato. Fato é que para ser reconduzido ao cargo, o procurador-geral Rodrigo Janot ainda precisa ser aprovado pelo Senado, presidido por Renan. 

Em tempo, notícia do Globo de hoje: "Renan Calheiros deve ficar fora de primeiras denúncias do MP na Lava-Jato".

11 de ago. de 2015

Juros e sustentabilidade




Uma entrevista e uma coluna. As duas publicadas na Folha de S. Paulo. Dois pontos de vista opostos e irreconciliáveis. A primeira concedida pelo presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco. A segunda escrita pelo presidente da CSN, Benjamim Steinbruch. O intervalo entre as duas é de apenas três dias.

Trabuco afirma que a crise política é mais forte do que a crise econômica. "Precisamos ter a grandeza de buscar a convergência. Precisamos sair desse ciclo do quanto pior, melhor". Sondado para assumir o ministério da Fazenda no segundo mandato da presidente Dilma, Trabuco sabe do que fala. Em 2015, o Bradesco atingiu o maior lucro trimestral da sua história, R$ 4,47bi. 

O banqueiro recusou o convite de Dilma, mas segue afinado com o governo. Dois dias depois da entrevista de Trabuco, aspas para a presidente: “No vale-tudo, quem acaba sendo atingido pela torcida que eu já disse do 'quanto pior, melhor’, é a população do país".

Em sua coluna no mesmo jornal, Steinbruch usa os números para chacoalhar a ignorância do leitor. "Você sabia que a taxa nos EUA é de zero a 0,25% ao ano? Que no Japão é 0,10%? Que na Suíça é negativa e que, para deixar dinheiro no banco, o investidor paga até 0,75% ao ano?" É, não é fácil viver de renda lá fora, "sem mover uma palha, sem fabricar um alfinete".

Nossos juros estratosféricos são uma excrescência única no mundo. Só no cartão de crédito são 372% ao ano. Coleguinhas emancebados com o mercado garantem que o juro alto é o único remédio para conter a inflação. É aqui que entra a esperteza. Entre nós, o mantra "quem mais sofre com a inflação é a população mais pobre" é contado pela metade. Venhamos e convenhamos, em situação de crise, é sempre o mais pobre quem mais sofre! Seja com a inflação, com o ajuste fiscal ou com os juros altos.

Steinbruch continua: "você sabia que desde março de 2013 (quando o Copom começou a elevar a taxa de juros) a inflação só subiu?" - Passou de cerca de 6,5% para quase 9% em 12 meses. Mas como, pergunta o leitor? Ele explica: a alta dos juros serve para reduzir a demanda. O que não é nem de longe o caso do Brasil. O grosso da nossa inflação vem do reajuste dos preços administrados, como água, luz e gasolina - sem nenhuma relação com a demanda.

A conclusão é óbvia. Juros de 14,25% ao ano só interessam a quem vive de renda. E aqui, volto à entrevista do presidente do Bradesco. Como ente do mercado financeiro e beneficiário direto do sistema, Trabuco é só elogios a Joaquim Levy, ministro da Fazenda. "Levy é um homem de Estado, que tem uma formação irretocável. Ele tem objetivos cívicos, patrióticos, de dar sustentabilidade ao país". Faço minhas ressalvas ao objetivo do ministro, mas que essa política sustenta muita gente, ah, sustenta.


Seguem os links dos originais:
http://bit.ly/1DxJsGJ
http://bit.ly/1N78LBw

16 de jul. de 2015

Dilma em xeque


Denunciado no esquema de corrupção na Petrobras e acusado de cobrar US$ 5 milhões em propina, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, apresenta suas armas.

Em nota, Cunha ataca o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, responsável pelo pedido de abertura de inquérito contra políticos investigados pela Operação Lava Jato. Janot teria se aliado ao governo federal para persegui-lo e constranger o Poder Legislativo, diz o deputado. 

A tática de Cunha é cada vez mais clara. Quando se confunde, propositadamente, com um dos poderes, ele apela para o espírito corporativo de deputados e senadores, muitos financiados por donos de empreiteiras - agora, perigosamente, delatores.

É a esse mesmo espírito que ele e o presidente do Senado, Renan Calheiros (também investigado), recorrerão para pressionar (ou continuar pressionando) a presidente Dilma Rousseff. A petista deve decidir até setembro se reconduz ou não Rodrigo Janot a um segundo mandato. 

É nesse mesmo tom que Cunha afirma à imprensa que o Congresso voltará do recesso mais duro em relação ao governo federal. 

Se contrariar os líderes do Congresso e mantiver Janot, Dilma pode se ver enrolada em um traumático processo de impeachment. Se capitular à vontade dos peemedebistas, a presidente atrairá para si todo o ônus por abafar as investigações. A ver.

PS1. Qual será o conselho do ex-presidente Lula?
 
PS2. Ao enfrentar Eduardo Cunha em março deste ano, Cid Gomes foi sumariamente defenestrado do ministério da Educação. Pode ser uma pista.


31 de out. de 2014

Indignação, chantagem e corrupção



"Existe uma medida, que está acima de todas as outras e não depende do Congresso Nacional, para acabar com a corrupção no Brasil: vamos tirar o PT do governo!”

A frase acima, você sabe, foi proferida por Aécio Neves, candidato do PSDB à presidência da República, no último debate contra Dilma Rousseff, na TV Globo, a três dias das eleições.
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Para muitos, foi o ponto alto de Aécio, ovacionado de imediato pela claque tucana. Em uma frase só resumiu o sentimento de muitos brasileiros verdadeiramente indignados com os inúmeros casos de corrupção do governo petista.

Para outros tantos, foi o pior momento do mineiro nos debates - em todos, não só da Globo. No afã de alimentar a sanha antipetista, passou o recebido via satélite de que não tinha nenhum plano ou projeto concreto para enfrentar ou minimizar o maior mal do país - a corrupção - segundo sua própria plataforma de campanha.
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O que já se via na área econômica, com apostas velhas e derrotadas - seu principal trunfo era trazer Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central do governo FHC, caracterizado por elevar as taxas de juros a 45% ano, em 1999, - e na área social, com a promessa de manter e aperfeiçoar todos os programas já existentes, muito embora o PSDB tenha liderado, por anos, oposição a esses mesmos programas - agora se via também no combate à corrupção: o vazio desconcertante de propostas e de rumo; diga-se emoldurado, sem o filtro do marketing, com a mais tacanha retórica de botequim.

Para os que vibraram com o candidato e nele viram uma opção aos desmandos petistas, eis uma pauta justa. Mal encerrada a contagem dos votos, é notícia que Henrique Eduardo Alves, presidente da Câmara, Renan Calheiros, presidente do Senado e Eduardo Cunha, deputado federal e líder do PMDB, ameaçam a presidente Dilma com a aprovação de projetos "bomba" de ampliação de gastos, em troca de "diálogo", "conversa", "cargos" e "espaços no governo".
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Munidos de indignação seletiva, PSDB, DEM e todos os partidos por trás de Aécio Neves ensaiam aliança com os chantagistas de plantão.

Pelo histórico, compreende-se. O que espanta é que para boa parte da imprensa, principalmente a mais engajada, a "rebelião em curso" seja vista como jogo jogado e sirva como fonte de critica a Dilma, por uma suposta falta de articulação e traquejo político, tão bem associados a Lula, pai pós moderno da "concertação" tupiniquim. 

E aí, leitor, o que se vê é a realpolitik ou, na verdade, a origem de toda sorte de desvio e mau uso de dinheiro público? De que lado você está?